sábado, 8 de dezembro de 2007

Reflexões sobre misérias particulares

-- Por que você segue em frente, se tem uma vida de cachorro?
-- Eu gosto de sentir o sol na rua.

(Diálogo do filme "Infância Roubada", de Gavin Hood)

Todos os dias, no meu caminho para o trabalho, passo por uma rua onde vejo sempre um mendigo. Se ele não está encostado no muro, onde passa a maior parte do dia, está sentado numa escadinha de três degraus do estabelecimento ao lado, que parece estar vago.

É um mendigo que me chama a atenção. Ele está sempre lá, seja 9h da manhã ou 2h da tarde, esteja fazendo calor ou caindo uma garoinha fria. Ele está sempre de gorro e casaco, de barba comprida e sujo. Seus bolsos são cheios de canetas esferográficas coloridas, pelo que pude ver de dentro do conforto do meu carro.

Minha curiosidade aumenta diariamente. Às vezes o vejo lendo um jornal. Nunca o vi com ninguém. Ele também não pede nada aos passantes. Está apenas ali, existindo, uma existência miserável.

Costumo olhar para o seu rosto, na tentativa de captar alguma emoção. Apesar de sua condição, ele não expressa sinais de revolta, mágoa, sofrimento, angústia, desesperança. Como é possível?!

Às vezes sinto que eu levo uma vida miserável. Como é possível?!

domingo, 25 de novembro de 2007

Epicurismo aplicado

Havíamos todos ido a um boteco, a convite desse amigo querido. Nos divertimos até o bar fechar e então saímos à procura de outro local para aproveitar o restante da noite. Era madrugada alta, estávamos em 5 no carro e -- sem muitas opções naquele horário -- ele me perguntou se podíamos vir para a minha casa.

Claro que sim! Compramos bebidas e viemos. Em 1 ano e 9 meses, esta foi a primeira reunião que fiz aqui. Por ser um apartamento modesto e com alguns reparos pendentes, estive sempre adiando a inauguração.

Epicuro vivia simples e livremente, e tinha o hábito de receber amigos em sua casa, pois acreditava serem esses os pilares da felicidade. Eu sabia disso. Mas, como já dizia Leonardo da Vinci: "não basta saber, é preciso aplicar".

Amor-próprio

"O homem que odeia a si mesmo é incapaz de amar alguém".

(Auto-engano, Eduardo Giannetti, Companhia de Bolso)

Recentemente aprendi a procurar o que há "por trás" dos pensamentos que tenho a meu próprio respeito. Este blog, por exemplo: seria uma tentativa de convencer-me de que tenho certas qualidades das quais, na verdade, careço?

O amor é algo que julgo essencial e, no entanto, não há em minha vida nada em que eu tenha sido mais deficiente, apesar de não terem faltado oportunidades de amar e ser amado.

Não, eu não me odeio. Mas há uma parte de mim da qual eu definitivamente não gosto.

domingo, 11 de novembro de 2007

Autoconhecimento

"Na mente do homem 'curado' do auto-engano não haveria lugar para nenhum pensamento sobre si mesmo, seu futuro e sua capacidade de mudar as coisas que não satisfizesse o mais rigoroso teste de realismo e objetividade. Nenhuma crença, emoção ou vivência subjetiva que o exame de consciência desconhecesse; nenhuma ilusão, confortadora ou não, encontraria abrigo no solo austero de sua racionalidade gelada. Toda concentração excessiva de valor seria imediatamente suspeita. Pertencendo ao universo natural como o ser insignificante e absurdo que ele efetivamente sabe que é -- nada além de uma concatenação efêmera e fortuita de circunstâncias acidentais no infinito oceano da matéria --, que tipo de esperança ou sentido ele poderia encontrar em existir?"

(Auto-engano, Eduardo Giannetti, Companhia de Bolso)

domingo, 21 de outubro de 2007

Acabou docinho

Ela partiu ontem, às 15h30. Se morando a 10 minutos daqui eu já a via pouco, estando agora várias horas distante, imagino que não a verei uma ou duas vezes mais.

Não tive coragem de me despedir. Mandei apenas um "torpedo" covarde, que não foi respondido. Compreensível.

Eu não estava apaixonado. Mas era um bem-querer tão forte que verti algumas lágrimas quando me dei conta do que estava para acontecer.

Acabou docinho.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Sobre o propósito da vida

Ontem fui ao aniversário de uma amiga e, por acaso, sentei-me ao lado de sua mãe à mesa do boteco onde nos reuníamos. Num determinado momento começamos a conversar e aproveitei para perguntar como ela via a vida, o que a motivava, quais eram suas realizações.

Gosto de ter esse tipo de conversa com pessoas mais velhas, pois acredito que posso aprender como viver melhor. Uma das questões que acabam tocando a todos nós é que tipo de "obra" gostaríamos de ter construído durante a vida, o que gostaríamos de deixar como registro de nossa passagem.

O que me surpreendeu foram as respostas que ouvi. Com muita humildade ela me falou dela, dos filhos dela, dos interesses dela, dos desafios dela, das conquistas dela, dos planos dela.

Talvez até sem ter plena consciência disso, ela me fez entender que a grande obra de sua vida é ela mesma.

domingo, 7 de outubro de 2007

Eu só quero um xodó

(Dominguinhos e Anastácia)

Que falta eu sinto de um bem
Que falta me faz um xodó
Mas como eu não tenho ninguém
Eu levo a vida assim tão só
Eu só quero um amor
Que acabe o meu sofrer
Um xodó pra mim
Do meu jeito assim
Que alegre o meu viver

sábado, 6 de outubro de 2007

Perfumes e paixões

Uma das recordações marcantes de quando me apaixonei pela primeira vez, é que eu sentia o perfume dela o tempo todo, em todo lugar. Era tão real que eu procurava aquele cheiro nas minhas mãos, nas roupas, nos objetos ao meu redor, só para poder sentir um pouquinho mais...

Faz muito tempo isso. Depois me apaixonei profundamente só mais uma vez, e o perfume também foi marcante naquela época. J'Adore. Como mexia comigo... Ela e o perfume dela.

Hoje, desde cedo, estou sentindo um perfume agradável no ar, que não sei a quem pertence. Também não sei se estou apaixonado. Minha terapeuta diz que percebeu um "declínio" em mim desde que descobri que meu afeto por uma amiga ia além da amizade.

Daqui a algumas horas vou me despedir desse afeto, que está de partida para outro estado. Vamos assistir a um show de músicas românticas chamado "Só Nós".

Haja coração.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Validação II

"Acho que esse foi o melhor almoço que tive nos últimos 50 dias", disse esse meu amigo, demonstrando enorme satisfação, enquanto nos retirávamos do restaurante turco recém-inaugurado.

Ele tinha almoçado ali poucos dias antes. Tinha provado praticamente os mesmos pratos que selecionara para os que ali se reuniam agora. Os amigos eram os de sempre, com quem já fizera outras refeições também. Então, o que tornara aquele almoço tão particularmente agradável?

A resposta talvez esteja relacionada à rara felicidade que tenho vivido. Rara porque é uma felicidade serena, sem ansiedade, sem exaltação. Acho que ela advém da descoberta gradativa de quem realmente sou. Há algum tempo deixei de querer parecer alguém, para ser eu mesmo. Depois passei a prestar atenção no que os outros dizem a meu respeito, para mim. E estou gostando do que ouço. Acho que a isso chamam de "validação".

Naquele dia, durante a refeição, expressei a meu amigo minha admiração pela quantidade de histórias que ele tem a contar sobre qualquer assunto que surja à mesa. Senti que aquilo fez bem a ele. Eu o "validei".

O gesto, embora gratuito, acabou gerando uma validação de volta, pois me senti bem também por ter contribuído para fazer um dos melhores almoços de um amigo que admiro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Validação

Hoje o segurança da empresa onde trabalho me contou que batizou seu filho de 1 ano com meu nome, em minha homenagem.

Temos uma relação baseada apenas em respeito mútuo e conversas atentas e sinceras de corredor, o que torna esse presente ainda mais especial para mim: é um sinal positivo às transformações que venho passando, um reconhecimento à pessoa que agora genuinamente sou.

domingo, 16 de setembro de 2007

Piadinha filosófica

"Um francês, um inglês e um alemão foram encarregados de um estudo sobre o camelo.

O francês dirigiu-se ao Jardin des Plantes, passou lá uma meia hora, interrogou o vigia, jogou pão para o camelo, cutucou-o com a ponta do seu guarda-chuva e, tendo voltado para casa, escreveu em seu diário um folhetim cheio de bosquejos picantes e espirituosos.

O inglês, carregando sua cesta de chá e um confortável material de acampamento, foi plantar sua barraca nos países do Oriente. Após uma temporada de dois ou três anos, trouxe de lá um espesso volume recheado de fatos sem ordem nem conclusão, mas de verdadeiro valor documental.

Quanto ao alemão, cheio de desprezo pela frivolidade do francês e pela ausência de idéias gerais do inglês, fechou-se em seu quarto para ali redigir uma obra em vários volumes intitulada: A idéia de camelo, extraída da concepção do Eu."

(A Filosofia, André Comte-Sponville, Martins Fontes)

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Suspensão

Estou há quase um mês sem escrever. Tudo está indefinido.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Rumos

Lembro bem daquela noite. Era janeiro de 1989, período de férias escolares. Eu tinha 13 anos e me sentia frustrado ou entediado. Eu estava na sala, sentado no canto esquerdo do sofá, e meu pai estava deitado no espaço restante. Assistíamos a um filme na TV chamado "Jogos de Guerra", sobre um hacker que invadia um computador e quase provocava uma guerra nuclear. Aquilo me deixou empolgadíssimo! Perguntei a meu pai se poderia fazer um curso de computação e ele concordou. Fiz minha matrícula na mesma semana e comecei o curso no mês seguinte.

Dezoito anos se passaram desde então. Olhando para trás, vejo que todo o meu futuro acadêmico e profissional foi determinado naquela noite. Na época, alguns parentes achavam ótimo eu ter certeza, desde cedo, sobre o que queria estudar. Internamente, eu me achava maquiavélico, porque acreditava que minha motivação tinha origem no "poder" de invadir computadores e fazer maldades.

Recentemente encontrei esse filme à venda numa loja aqui do bairro e não tive a menor dúvida: comprei. Assistindo a ele novamente, e com o conhecimento que tenho hoje sobre mim, compreendi a verdadeira questão: o "mocinho" do filme conhece uma "mocinha" e ele a impressiona com suas habilidades técnicas...

Passei dois terços da minha vida procurando a minha "mocinha".

Sobre a brevidade da vida

"Pequena é a parte da vida que vivemos. Pois todo o resto não é vida, mas somente tempo."

"O que fazemos é breve, o que faremos, dúbio, o que fizemos, certo."

-- Sêneca

sábado, 4 de agosto de 2007

O desafio de Glaucon

"Algumas escolhas são fáceis, algumas não. Estas são as realmente importantes, as que nos definem como pessoa."

(Do filme "Número 23", com Jim Carrey, de Joel Schumacher)

Em minha pesquisa sobre o assunto do post anterior, encontrei na área de educação aberta do MIT (http://ocw.mit.edu/) uma aula de filosofia antiga na qual é abordado o tema "Por que ser moral". Faço um mini resumo aqui:

A aula apresenta 3 tipos de bens: os bens do tipo A seriam aqueles desejáveis pelo que são em si, como prazer ou felicidade; Os do tipo B seriam os desejáveis pelo que são e pelo que podem trazer, como conhecimento e saúde; Os do tipo C seriam desejáveis apenas pelo que podem trazer, como dinheiro ou fazer medicina.

A maioria das pessoas pensa na justiça como um bem do tipo C, ou seja, desejável apenas por suas conseqüências, mas Glaucon e Sócrates acreditavam que a justiça é um bem do tipo B, desejável em si e por suas conseqüências. Glaucon desafia Sócrates e demonstrar que a justiça é um bem do tipo B. Qual é a importância disso? Se a justiça fosse apenas desejável por suas conseqüências, então não teríamos motivações persistentes para sermos justos e erraríamos ao considerar a justiça uma virtude, algo a perseguir numa vida de excelência e felicidade.

Glaucon define as bases do desafio:

- Ele coloca o que as pessoas consideram ser a origem e a natureza da justiça: diz que as pessoas, por natureza, agirão errado se tiverem a opção de fazê-lo. Diz que a melhor opção é agir errado sem ser punido e a pior é ser injustiçado sem poder se vingar. Diz que é melhor causar uma injustiça do que sofrê-la. Diz que, para evitar sofrer injustiças, as pessoas sacrificam parte de seu poder de agir errado, e essa é a origem da justiça. Diz que o forte não precisa temer a injustiça e portanto não há razão para sacrificar seu poder e ser justo.

- Glaucon diz que as pessoas só praticam a justiça porque a vêem como algo necessário. As pessoas, por natureza, buscam a satisfação de seus desejos. Elas querem tanto quanto puderem ter, dentro de seus limites de poder. Se permitíssemos a alguém, justo ou injusto, a liberdade de agir como quisesse sem temer as conseqüências, essa pessoa agiria injustamente.

- Glaucon diz que a vida do injusto é melhor que a vida do justo. Diz que devemos decidir quando a injustiça é uma boa escolha comparando a pessoa completamente justa e a completamente injusta, para determinar qual é a mais feliz. A pessoa completamente justa é aquela que é justa apesar de parecer injusta. A pessoa completamente injusta é aquela que se livra da injustiça insuspeitadamente. A pessoa completamente injusta seria mais feliz que a justa, portanto a injustiça é uma boa escolha como parte de uma vida feliz.

Estando Glaucon certo, então a justiça só seria boa por suas conseqüências em determinadas condições sociais, onde ela traria recompensas e reputação, caso contrário, não haveria motivação para ser justo. Além disso, se é possível ser feliz sem ser justo, a justiça não é essencial para a felicidade e portanto não seria um componente da "excelência humana".

Infelizmente a aula termina sem nos dar uma resposta. Não sei se ela estaria nos volumes da "República" de Platão ou se o objetivo por trás de uma lição de filosofia em uma faculdade de primeira linha é apenas dar um nó na cuca mesmo.

Link para o texto "Why Be Moral?" do MIT:
http://ocw.mit.edu/NR/rdonlyres/Linguistics-and-Philosophy/24-200Fall-2004/E8F61ABE-9EC5-4CB0-9915-E5DEA25B1BFB/0/repgoods.pdf

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Há lógica na ética?

Tenho que confessar que não está fácil ser 100% ético neste ambiente desfavorável. Não sei se meu modelo de referência é utópico para o círculo social em que vivo ou se preciso apenas "relaxar e gozar".

O fato é que não me parece possível basear a postura ética numa decisão lógica. Se para decidir o que é certo ou errado devo entender as conseqüências das minhas decisões, e a meu ver só um supercomputador seria capaz de tamanha façanha, me parece muito mais provável que o indivíduo ético seja pautado pela emoção do que pela razão.

Se essa hipótese for correta, minha crença anterior de que devemos ser éticos em nome da sustentatibilidade da sociedade como a conhecemos (ou desejamos que seja) cai por terra. Apesar de, de maneira geral, esta idéia fazer algum sentido, as sociedades são tão mais complexas e as variáveis presentes nesses sistemas tão numerosas, que me parece impossível prever o resultado coletivo último partindo dos comportamentos individuais.

Vou pesquisar um pouco e volto ao tema oportunamente.

sábado, 21 de julho de 2007

Capitalismo e Democracia

Acabei de assistir a um documentário muito interessante, chamado "The Corporation". Ele começa mostrando como, há muitos anos, as empresas ganharam o status de "pessoas" para depois se tornarem as atuais "pessoas jurídicas".

Ao longo do filme são apresentadas inúmeras barbaridades cometidas por essas "pessoas" em nome do lucro e como seus comportamentos descrevem perfeitos psicopatas, segundo o DSM-IV (Manual de Diagnóstico das Perturbações Mentais da Associação Americana de Psiquiatria).

As corporações alcançaram um poder tão grande que mesmo os governos das maiores potências já não são páreos para elas. Elas distorcem as leis, manipulam os consumidores, exploram populações pobres e causam extensos danos ao planeta. Para quê? Para beneficiar um grupo altamente concentrado de acionistas.

Eu não entendo nada sobre sistemas econômicos, mas me arriscaria a dizer duas besteiras com base no que andei lendo ultimamente:

a) Vivemos numa era de extrema competitividade, com produtos evoluindo ultra-rapidamente, os quais consumimos sem necessidade, pois as campanhas de marketing nos fizeram esquecer o que nos torna verdadeiramente felizes e realizados, e assim geramos pressões sociais e desperdício de recursos naturais.

b) Procuramos sempre fazer o melhor negócio, pagando o mínimo possível por um determinado produto. Acredito que o ganho gerado num primeiro momento permite que aceitemos trabalhar por menos posteriormente, criando um ciclo de exploração que só prejudica a nós mesmos. Temos que pagar o preço justo pelo que consumimos e temos que fazer negócios com "pessoas jurídicas" que tenham valores outros que não só a pura realização de lucros.

O capitalismo é bom? Não sei. Talvez devêssemos perguntar à outra metade da população da Terra, aos 3 bilhões que são pobres. A democracia é boa? Sócrates dizia que a decisão da maioria não significava, necessariamente, uma decisão racional. Sabendo o que sabemos sobre o poder das campanhas de marketing, sobre o baixo nível de educação da população, sobre até mesmo a incapacidade dos governos diante das corporações, o que dizer da democracia hoje?

Gente como eu

Estou um pouco magoado e ansioso desde ontem. Percebo que meu amigo mais próximo tem uma postura desrespeitosa em relação a mim quando se trata de dinheiro. Mesquinharias, portanto a mágoa.

Talvez ele entenda algumas atitudes minhas como ingênuas ou perdulárias. Mas eu as considero justas ou éticas. E, sem dúvida, me considero generoso. Só não gosto que alguém, muito menos um amigo, me explore.

Pretendo conversar com ele e espero ser habilidoso o suficiente para exigir o merecido respeito sem, entretanto, destruir a relação que, imagino, seja importante para ambos. Mas sempre há um risco, daí a ansiedade.

Tenho dificuldade em achar gente como eu. Não porque eu seja muito diferente; acho que é porque não procuro mesmo.

Hoje, entretanto, fui a uma locadora de vídeos nova que abriu aqui no bairro e conheci um cara impressionantemente parecido comigo. Isso me confortou.

Sempre afirmei e reafirmei que valorizo meus amigos. Mas meus amigos também precisam me valorizar. Caso contrário, não somos amigos.

terça-feira, 17 de julho de 2007

TAM 3054

Não há Filosofia ou Psicologia, neste momento, que me impeça de sentir um ódio mortal deste ser incompetente, corrupto, ignorante, vagabundo, irresponsável, falso e todos os demais adjetivos que me faltam agora para descrever esse nosso infeliz presidente Lula e toda a corja que o cerca.

domingo, 15 de julho de 2007

Realidade

Costumo dar carona a um amigo que reclama quando agradeço com a mão a outro motorista que me faça uma gentileza no trânsito. Ao invés de gentileza, ele vê nos outros motoristas motivações diversas e menos nobres. Respondo que, onde ele talvez esteja vendo a realidade, eu prefiro enxergar elefantes cor-de-rosa.

Está na moda usar a física quântica e seus conceitos abstratos para explicar todo tipo de baboseira, mas há uma analogia que considero particularmente útil. No filme "Quem somos nós?" o personagem Dr. Quantum explica o experimento da fenda dupla que, em resumo, prova que a matéria assume um comportamento na presença de um observador e outro em sua ausência.

Seria fantástico se um dia descobríssemos que a realidade que nos cerca é moldada por nós, observadores do mundo. Mas é mais provável que isso só seja possível no mundo quântico. Neste outro, só podemos mudar a nós mesmos e a maneira como percebemos a realidade.

sábado, 14 de julho de 2007

A psicologia positiva e a felicidade

"Há muito tempo psicólogos estudam patologias do humor, como a depressão, mas nos últimos anos também começaram a explorar a natureza do que torna os humanos felizes. O campo da 'psicologia positiva' tem chegado a algumas conclusões surpreendentes. Há um conjunto cada vez maior de evidências de que a felicidade não pode ser alcançada com trabalho duro ou sorte. As pessoas mais felizes parecem ser aquelas comprometidas de forma integral com o tempo presente, em vez de focadas em objetivos futuros."

(Trecho do artigo "Você é Feliz?", por Michael Wiederman, publicado na revista Viver Mente&Cérebro, nr. 174, ano XIV)

PS: Interessante saber que a Psicologia está descobrindo nos últimos anos o que a Filosofia já sabia 600 anos antes de Cristo.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Epicuro e a felicidade

Tenho vivido dias de rara tranqüilidade. Prova maior disso é que há quase duas semanas que não escrevo nada aqui. Entretanto, meu registro não estaria completo se não incluísse os bons momentos e os pensamentos que têm me acompanhado ultimamente, portanto apresentarei os fatos brevemente e farei a devida amarração no final.

No fim de semana retrasado fui a um churrasco de aniversário de uma amiga que tenho há uns 15 anos. Cheguei muito depois do horário marcado, pois tive que trabalhar naquele sábado, mas felizmente sua família, namorado e alguns amigos ainda estavam lá. No ano anterior eu havia faltado à comemoração e não queria de maneira nenhuma perder a festa deste ano, pois entendo que é primordial demonstrarmos todo nosso apreço por nossos amigos.

Na semana seguinte fui a uma festa de premiação de mídia promovida por um grande jornal. Fui convidado por um amigo com quem trabalho, em cima da hora. Saí da empresa e fui direto para o local do evento, motivado pelo pensamento de que são esses momentos que dão alguma cor à vida. Comi, bebi, ri, dancei, adorei.

No dia seguinte tive uma dura negociação com um cliente. O resultado (ainda) não foi bom para a empresa, mas percebi que meu desempenho foi excelente, o que fortaleceu meu sentimento de competência profissional, que andou meio esquecido em meio às demais questões existenciais que tenho enfrentado.

No último fim de semana viajei para o interior, para a casa de meus pais. Brinquei com meus sobrinhos, passeei com nossa cachorra, fiz churrasco e descansei. Voltei para cá sob o sol da manhã, ao som de Moby, numa outra viagem, mas agora ao interior de mim. Acho que há mais para se dizer sobre um olhar que troco com meu pai do que sobre o que fiz em duas semanas de minha vida. Mas isso ficará para outro post.

Finalmente, ontem saí com amigos do trabalho. Foi uma noite maravilhosa porque houve uma troca afetiva muito rara para mim ultimamente. Coincidentemente, aconteceu na mesma noite em que tive uma ótima sessão a respeito desse mesmíssimo tema com minha terapeuta. Será que os ventos irão mudar?

A Filosofia tem me ensinado muito. Epicuro dizia que a felicidade advém de três coisas: amigos, liberdade e reflexão sobre a própria vida. Se estou tranqüilo e feliz agora, talvez seja mesmo porque tenha amigos, me sinta competente profissionalmente (e portanto livre para trabalhar onde quiser) e dedique um tempo toda semana para refletir sobre a vida.

domingo, 1 de julho de 2007

Clima

Gosto quando chove. Ver a chuva cair, de dentro do carro ou de casa, me dá uma sensação de aconchego e proteção.

Sinto o mesmo quando faz muito frio. Nesses dias é gostoso tomar sopa na caneca ou então por à prova a proteção de um casaco.

Também gosto de sair para trabalhar pela manhã e encontrar o dia ensolarado. Tudo fica mais bonito, alegre.

Mas onde buscar o aconchego, a proteção e a alegria se não há chuva, frio ou sol? Há anos tenho procurado a resposta no estômago, mas acho que ela está no coração.

sábado, 30 de junho de 2007

Thinking Blogger Award

Obrigado pela honraria concedida, minha querida. Comecei a escrever meu agradecimento em seu site, mas achei que seria mais justo publicar um post em sua homenagem aqui.

A verdade é que, o que comecei como um blog, acabou virando mais um diário de notas. Num certo nível, quando escrevo, o faço apenas para meu registro pessoal, não almejando a divulgação aberta de minhas passagens.

Deve estar lhe ocorrendo a seguinte pergunta, que já havia me ocorrido antes e para a qual acho que só agora tenho uma resposta razoável: se eu não pretendia escrever para um público leitor, então por que postar meus textos na Internet?

Eis que descobri recentemente (vide posts anteriores) que, desde a antigüidade, uma das maiores causas de inquietação da humanidade é a morte. Nós, humanos, somos as únicas criaturas na face da Terra que temos consciência da finitude da vida. Como conseqüência, inventamos as mais diversas tentativas de esquivarmo-nos dessa realidade.

Alguns preferem pensar que continuarão existindo, após a morte, como matéria do cosmos ("do pó vim, ao pó retornarei"); Outros, que irão para o paraíso e reencontrarão seus entes queridos já falecidos; E outros procurarão manter-se vivos na memória das pessoas, através de grandes contribuições prestadas à sociedade (como fez Darwin, Freud e Einstein, por exemplo).

Embora eu não tivesse consciência disso quando comecei a escrever há algumas semanas, sabia que queria deixar um registro da minha existência, de minha passagem, e não poderia ser em um caderno qualquer, que pudesse parar no lixo acidentalmente.

Tenho consciência de que as coisas que escrevo aqui muitas vezes parecem loucuras. Mas é interessante descobrir que todas essas loucuras e angústias já ocorreram a gente muito mais inteligente e há muito mais tempo do que eu supunha, e acho maravilhoso aprender com eles sobre algumas das questões que tocam a todos.

Eis algo interessante que aprendi nesta semana:

"Esperar um pouco menos [do futuro], amar um pouco mais [no presente]."

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Ou

Como escrever sobre algo com tamanho potencial para machucar-me?

Reestruturação

Tenho aprendido muita coisa nova ultimamente. Minha cabeça está fervilhando, cheias de novos conceitos, com uma visão muito mais organizada do mundo, de mim.

Entretanto, só um verbo parece descrever o que estou sentindo: "dilacerar". À medida que meus pensamentos se estruturam, mais e mais me perco em meus sentimentos.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Filosofia

"Ora, eu lhe disse que ela se concebe em relação à questão da morte, em relação a essa 'finitude' que nos leva, uma hora ou outra, a nos interrogarmos sobre o caráter irreversível do curso do tempo e, conseqüentemente, sobre o melhor uso que podemos fazer dele. Por isso, aliás, mesmo que todos os seres humanos não se tornem filósofos, todos são, um dia ou outro, tocados pelas questões filosóficas."

(Aprender a Viver, Luc Ferry, Editora Objetiva)

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Primeiro resultado?

Retornando de uma festa, este meu amigo começou a agradecer-me uma vez mais pela grande felicidade que está vivendo. Ele ao volante, eu de carona. Olhando sempre para frente, respondi: "não precisa agradecer, o mérito foi todo seu".

Ele não concordava. Dizia que eu e um outro amigo éramos os responsáveis por ele ter sido efetivado após dois anos de estágio na empresa onde trabalhamos, e que faria o possível e impossível para retribuir nosso empenho.

Insisti que a conquista fora dele e que pouco poderíamos ter feito para influenciar o resultado. Foi quando olhei para o lado e percebi que ele estava profundamente emocionado, com o rosto todo molhado de lágrimas. Foi marcante.

Embora, nesta nossa curta convivência, eu não tenha feito mais do que elogiá-lo pelos bons resultados, dar-lhe uma bronca quando necessário, e compartilhar minhas opiniões honestas sobre a vida como a vejo hoje, gostaria muito de acreditar no que ele disse sobre eu tê-lo ajudado a ser mais feliz.

domingo, 17 de junho de 2007

Caixa de chicletes

Permita-me, irmão, chamar-lhe a atenção para o que fez: você me embaraçou diante de seus amigos.

Eu me indignava em silêncio diante do discurso vergonhoso seu e de sua companheira. Eu poderia ter me expressado, mas respeitá-lo e ao seu evento me parecia mais adequado.

Você, entretanto, decidiu envolver-me. Mencionou inesperadamente um fato embaraçoso de meu passado. Olhou-me e esperou uma explicação diante de todos.

Numa mistura de indignação e embaraço, tudo o que consegui foi confessar que jamais faria aquilo novamente e reiterei que abominava tal comportamento. Minha tensão transpareceu na voz e até disso você zombou. Quanto ódio você devia estar guardando...

Acho importante esclarecer, irmão, que sei que fui imaturo no passado, mas cresci. Sei que não tenho o direito de julgar ninguém, porque erro e sempre errarei, mas não acho admissível que você, na sua idade, ainda se comporte como um moleque.

Fico imaginando: como você se sentiria se tudo o que falou naquela mesa fosse contado aos seus filhos, na sua presença? Que tipo de pai, que tipo de homem, com a sua formação, a sua profissão, se comportaria daquela maneira?

Você não percebe que seus amigos quase sentem pena quando esbraveja seus motivos tolos para agir como age? Eles não se calam porque foram convencidos, mas porque sentem que não vale a pena argumentar.

Acho que você canalizou em mim raiva por chamar-lhe a atenção para seu comportamento inadequado. Digo que, se eu fosse o único, você deveria me ignorar. Só não me maltrate, pois isso aumenta ainda mais a distância entre nós.

Porém, o que vi entre seus amigos é que há outros que pensam como eu e têm a coragem de dizê-lo, mas você os ignora.

Quando há várias pessoas nos dizendo que estamos errados, vale a pena parar para pensar.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Amigo espelho

É curioso perceber que muito do conteúdo de sua cabeça só se revela através da boca. Idéias algumas vezes brilhantes, pensamentos não raro profundos e uma série de fatos aparentemente desconexos só se correlacionam no ar que expiro ao me comunicar.

Obrigado, amigo, por permitir que eu me enxergue através de você.

domingo, 3 de junho de 2007

Maldito Molico

Não sei o que estou fazendo. Ou sei. Mas não vou admitir. Fazia tempo que não me sentia assim. Acho que era medo. O que aconteceu? O medo diminuiu ou o outro venceu desta vez? Seja lá o que for, me sabotei novamente. E percebi isso muito tarde. Burro!

Duas esferas negras e brilhantes, grandes, repletas de histórias e sentimentos. Eu sinto. Mas a culpa não é só minha. A culpa é do maldito Molico!

Meio-termo

É difícil encontrar o meio-termo, de tudo.

Numa conversa com amigos, não se deve ficar calado, nem falar demais. Se não se sabe nada sobre o assunto, pergunta-se um pouco, para participar. Se se sabe tudo, responde-se um pouco, para não parecer arrogante.

Numa tentativa de engatar um relacionamento, não se deve acelerar demais, nem enrolar demais. Isso é mais complicado, por ser uma percepção relativa e particular de cada um. Nunca se sabe em que pé as coisas estão sob a perspectiva do outro.

Eu estou no escuro e estou procurando o meio-termo para alguns sentimentos. Devo me sentir fracassado? Devo ignorar tudo e seguir impávido? Devo ter paciência? Devo procurar por erros?

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Estupidez aguda

Acho que tive um momento de estupidez aguda ao escrever o texto anterior. Novamente, somos interdependentes e devemos trabalhar colaborativamente pelo bem comum.

Assim, embora devamos buscar a felicidade enquanto indivíduos, não podemos fazê-lo causando dano aos demais, sob pena de destruir a sociedade e tornar a vida muito mais difícil para todos.

Temos o dever de impedir abusos.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Paradoxo

Em minha visão estreita e particular, parece-me que o objetivo da vida é que cada um a usufrua da melhor maneira possível. Se neste curto período se puder contribuir de alguma forma para o progresso da sociedade, melhor ainda.

Como identificou Maslow, nossas necessidades se estruturam de forma mais ou menos hierárquica e, conforme vamos suprindo algumas, outras vão surgindo: necessidades fisiológicas, de segurança, afeição (belongingness and love), estima e auto-realização.

A questão que me intriga é: até que ponto estão errados os indivíduos totalmente anti-éticos, se o resultado de suas ações estiver lhes suprindo as necessidades?

Veja o caso de políticos corruptos: roubam (e asseguram suas necessidades básicas), pertencem a partidos e grupos (belongingness), são publicamente reconhecidos (estima) e, como efeito colateral de seu "trabalho", chegam ao fim da vida com um sentimento de auto-realização por obras executadas no percurso.

Esse tipo de pessoa é danoso à sociedade. Causa sofrimento, violência, morte. Mas, sob seu ponto de vista, a vida teria sido usufruída da melhor maneira e praticamente todas as suas necessidades teriam sido supridas.

Então, por que não?

sábado, 26 de maio de 2007

Gênio

"Não basta saber, precisamos aplicar. Não basta estar disposto, precisamos fazer."

"Assim como o dia bem empregado traz o bom sono, também uma vida bem empregada traz uma boa morte."

-- Leonardo da Vinci

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Impotência

Acabei de chegar do supermercado. Estou me sentindo minúsculo, covarde, impotente. Primeiro, os fatos, depois, as ponderações.

Comprei pouca coisa. Ao aproximar-me do caixa cedi a vez para uma senhora que chegou quase ao mesmo tempo que eu. A senhora demonstrou à moça do caixa preocupação quanto ao valor de sua compra, perguntando em voz baixa se R$ 10 seriam suficientes para pagá-la. Não obteve resposta, mas o valor veio logo em seguida: R$ 8,50. Pagou com um vale-alimentação de R$ 10, mas havia algum problema para receber o troco e ela ficou ali ao lado aguardando.

A moça do caixa começou então a passar a minha compra, como se ninguém estivesse esperando nada. Eu disse que ela poderia parar, resolver a questão do troco e depois retomar a minha compra. Ela me ignorou e respondeu diretamente para a senhora que iria "só terminar a compra deste senhor e já resolveria a questão dela". Senti-me estúpido por não ter sido mais enfático.

Perguntei como ficaria a questão do troco da senhora e, em resposta ao meu questionamento, a moça procurou a gerente, que sem nos dar a menor bola, respondeu qualquer coisa que nenhum de nós entendeu. Saí do supermercado pasmo, caminhei até o carro, deixei a sacola e voltei para verificar se a senhora tinha sido finalmente atendida.

Para minha surpresa ela continuava lá, paradinha, caladinha, no mesmo lugar, ao lado do caixa, aguardando seus escassos e necessários R$ 1,50, enquanto a imbecil do caixa passava a compra de outra pessoa! Perguntei se alguém já tinha resolvido o problema e ela acenou negativamente com a cabeça. A moça então disse que seria necessário adquirir mais produtos, até completar os R$ 10. Eu perguntei à senhora se ela achava isso aceitável (que pergunta cretina!). Sem responder ela caminhou até uma gôndola próxima, pegou um pacotinho de balas, passou pelo caixa e ainda teve que deixar mais R$ 1,08! Enquanto isso a moça do caixa me fazia uma pergunta reveladora: "ela está com você?"

Saí do supermercado arrasado. Olhei para o céu. Olhei para o chão. Não sabia o que fazer. Este é um lugar onde um cidadão humilde é pago por seu trabalho honesto com um papel que não lhe dá direito a troco, que o obriga a consumir mais do que deseja, em que seu semelhante o trata com desprezo e nem um tonto mais ou menos esclarecido como eu sabe o que fazer para defendê-lo ou restaurar-lhe a dignidade diante de situações absurdas como esta.

Como sou imaturo e impotente!

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Children see, children do.

Até poucos anos atrás eu não me considerava um cidadão politizado. O escândalo do mensalão, entretanto, foi tão chocante que provocou mudanças em meu comportamento.

No auge da crise o que mais se comentava era a falta de ética, a evidente corrupção e a série de mentiras deslavadas acompanhadas pela TV por toda a nação.

Ocorre que, aqui no mundo dos comuns, eu observava que as pessoas à minha volta se indignavam, criticavam a classe política, mas não atinavam para o fato de que elas próprias careciam de uma revisão de valores.

Minha conclusão foi que o primeiro passo na transformação do mundo tem que começar por nós mesmos. Naquele dia, decidi transformar-me num cidadão exemplar.

Sei que posso não mudar o mundo, posso morrer sem ver nenhuma mudança, mas pelo menos quero ser um bom exemplo para as crianças. Children see, children do.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

A evolução da "tribo"

"Ao longo dos anos, Drayton passou a crer que a grande idéia de Gandhi foi reconhecer no início do século XX que um novo tipo de ética estava emergindo no mundo -- uma ética baseada não em regras mas em empatia. Era uma mudança necessária à medida que a sociedade humana ficava cada vez mais complexa. No passado, quando as pessoas viviam em comunidades homogêneas e raramente se mudavam para muito longe de seus lugares de origem, a ética baseada em regras era adequada para governar as relações humanas. Mas o mundo começava a ficar acelerado e interligado demais para a ética baseada em regras. Havia muitas interações nas quais as regras eram obsoletas e os sistemas de valores entravam em conflito. As novas circustâncias exigiam que as pessoas se tornassem mais independentes em sua orientação ética: as pessoas tinham de ser capazes de se colocar no lugar das outras ao seu redor. Aqueles que não fossem capazes de lidar com situações nas quais as regras estavam mudando ou que não conseguissem dominar as habilidades da compreensão empática também não seriam capazes de administrar seu comportamento de modo sábio e ético; cada vez mais, afirma Drayton, serão vistos como 'desgarrados' e marginalizados pela sociedade."

(Como Mudar o Mundo, David Bornstein, Editora Record)

sábado, 5 de maio de 2007

Semi-ciclos

Os últimos dias têm sido interessantes. Tenho trabalhado excessivamente, o que me dá uma sensação momentânea de "dever cumprido", embora eu não tenha, de fato, concretizado nada.

Também tenho ampliado e aprofundado alguns relacionamentos pessoais, o que considero uma grande conquista. Por outro lado não tenho tido tempo de ler e de pensar sobre as questões do mundo.

No fundo, acho que estou entrando num semi-ciclo positivo da senóide de minha vida e, ao que parece, a inspiração para tratar das questões sociais só aparece durante os semi-ciclos negativos.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Declaração de ignorância

Antes de prosseguir, preciso registrar que tenho consciência de que minha visão do mundo ainda é muito simplista. Tenho consciência de que o mundo não é simples, as pessoas não são simples, a História é intrincada e que ainda não vi o suficiente para formar uma boa opinião.

Mas eu precisava partir de algum ponto. O que fiz, então, foi reduzir o mundo a uma tribo. Na tribo é clara a relação de interdependência entre seus membros. Nela cada um deve dedicar-se a uma função e contribuir para o seu progresso e bem-estar. Alguns devem prover os alimentos, outros o conforto e a segurança, e outros ainda, o entretenimento.

Partindo desse conceito quase infantil consigo me guiar com mais segurança na complexidade do mundo atual. Apenas para citar um exemplo, a partir dele consigo explicar o que muita gente parece já ter se esquecido: por que não devo tirar vantagem de outrem?

Acredito que, como somos todos interdependentes, numa cadeia maior ou menor de eventos, tudo o que um indivíduo fizer na comunidade refletirá de alguma forma nele mesmo.

Ok, é simplista demais, eu sei. Seria isso válido numa tribo com 6 bilhões de membros? Por que não tirar vantagem de alguém se pudesse passar despercebido? A tal cadeia de eventos não poderia ser tão longa que já se teria morrido antes de algo ruim retornar?

Por enquanto, só posso responder por mim... E eu optei pelo comportamento sustentável.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Quanto custa ter valores?

"Confesso que, quando tenho que condenar princípios, cedo demais perco a noção de como se apresentam em um indivíduo particular -- neste caso, em você -- e de que estou apto a considerá-los com excessiva seriedade porque vejo neles seu sentido e suas conseqüências universais, nos quais você não pensa -- e que, na realidade, para você não estão de forma alguma neles."

O trecho acima é de uma carta de Hegel a Marie von Tucher. Ele, um filósofo solteirão de 40 anos, se apaixonara por Marie (18) e tentava se retratar de sua inabilidade no trato com ela durante os encontros que mantinham.

Há alguns dias fui repreendido por meu irmão por ter opiniões sérias demais a respeito de determinados temas. No caso, eu defendia que manifestações de racismo, mesmo disfarçadas como brincadeiras, eram simplesmente inaceitáveis e que não podíamos nos omitir diante dessas demonstrações de ignorância, pois a omissão seria equivalente à aprovação. Ele disse que minha postura rígida encurtaria minhas possibilidades de relacionamento social.

Eu não quero ficar como Hegel. Mas meus valores me definem, são minha identidade. Quando me posiciono contra um comportamento que julgo inaceitável, acredito estar contribuindo para uma sociedade melhor. Assim, sigo procurando e selecionando relacionamentos que estejam alinhados com os meus valores.

sábado, 21 de abril de 2007

Risco e recompensa

Comecei este blog para tentar organizar e refinar minha visão do mundo mas, como se percebe, até agora não saí do próprio umbigo. Paciência.

Sou avesso a "riscos emocionais". E recentemente me coloquei numa dessas situações que me deixam muito nervoso. Fiz de propósito, estou tentando mudar.

O fato é que, por conta desse risco que aceitei correr, conheci uma pessoa rara, dessas preciosas mesmo, doce, inteligente, criativa, ativa, querida, peralta. DIP for short.

Uma enorme recompensa, sem dúvida.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Microsenóide

Toda noite termina acompanhada de um sentimento estranho. Acho que é arrependimento por mais um dia desperdiçado. Toda manhã renovo a esperança de que algo mudará, repetindo um ciclo de expectativas e frustrações diárias.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Vida de filósofo

Exceto pelo fato "básico" de que nunca produzi nada no campo da Filosofia, acho que minha vida se assemelha à de alguns filósofos como Kant, Schopenhauer e Nietzsche.

Hoje, muito curiosamente, deparei-me com esse trecho num livrinho de bolso (Kant em 90 minutos, Paul Strathern), que parece ter sido escrito para que eu o lesse nesta data. Cito:

"É difícil saber o que dizer sobre a vida de Kant. Na prática, ele não viveu (fora da mente). Nada que possa despertar qualquer interesse lhe aconteceu. No entanto, a descrição de uma vida de extremo tédio não necessita ser, ela própria, maçante -- conforme foi demonstrado por seu contemporâneo Casanova e, mais recentemente, por Hemingway."

Será?

Balanço

Hoje completo 33 anos. Ainda não fiz nada realmente significativo pela minha vida, nem pela de outros. Como serão os próximos 33?