quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Rumos

Lembro bem daquela noite. Era janeiro de 1989, período de férias escolares. Eu tinha 13 anos e me sentia frustrado ou entediado. Eu estava na sala, sentado no canto esquerdo do sofá, e meu pai estava deitado no espaço restante. Assistíamos a um filme na TV chamado "Jogos de Guerra", sobre um hacker que invadia um computador e quase provocava uma guerra nuclear. Aquilo me deixou empolgadíssimo! Perguntei a meu pai se poderia fazer um curso de computação e ele concordou. Fiz minha matrícula na mesma semana e comecei o curso no mês seguinte.

Dezoito anos se passaram desde então. Olhando para trás, vejo que todo o meu futuro acadêmico e profissional foi determinado naquela noite. Na época, alguns parentes achavam ótimo eu ter certeza, desde cedo, sobre o que queria estudar. Internamente, eu me achava maquiavélico, porque acreditava que minha motivação tinha origem no "poder" de invadir computadores e fazer maldades.

Recentemente encontrei esse filme à venda numa loja aqui do bairro e não tive a menor dúvida: comprei. Assistindo a ele novamente, e com o conhecimento que tenho hoje sobre mim, compreendi a verdadeira questão: o "mocinho" do filme conhece uma "mocinha" e ele a impressiona com suas habilidades técnicas...

Passei dois terços da minha vida procurando a minha "mocinha".

Sobre a brevidade da vida

"Pequena é a parte da vida que vivemos. Pois todo o resto não é vida, mas somente tempo."

"O que fazemos é breve, o que faremos, dúbio, o que fizemos, certo."

-- Sêneca

sábado, 4 de agosto de 2007

O desafio de Glaucon

"Algumas escolhas são fáceis, algumas não. Estas são as realmente importantes, as que nos definem como pessoa."

(Do filme "Número 23", com Jim Carrey, de Joel Schumacher)

Em minha pesquisa sobre o assunto do post anterior, encontrei na área de educação aberta do MIT (http://ocw.mit.edu/) uma aula de filosofia antiga na qual é abordado o tema "Por que ser moral". Faço um mini resumo aqui:

A aula apresenta 3 tipos de bens: os bens do tipo A seriam aqueles desejáveis pelo que são em si, como prazer ou felicidade; Os do tipo B seriam os desejáveis pelo que são e pelo que podem trazer, como conhecimento e saúde; Os do tipo C seriam desejáveis apenas pelo que podem trazer, como dinheiro ou fazer medicina.

A maioria das pessoas pensa na justiça como um bem do tipo C, ou seja, desejável apenas por suas conseqüências, mas Glaucon e Sócrates acreditavam que a justiça é um bem do tipo B, desejável em si e por suas conseqüências. Glaucon desafia Sócrates e demonstrar que a justiça é um bem do tipo B. Qual é a importância disso? Se a justiça fosse apenas desejável por suas conseqüências, então não teríamos motivações persistentes para sermos justos e erraríamos ao considerar a justiça uma virtude, algo a perseguir numa vida de excelência e felicidade.

Glaucon define as bases do desafio:

- Ele coloca o que as pessoas consideram ser a origem e a natureza da justiça: diz que as pessoas, por natureza, agirão errado se tiverem a opção de fazê-lo. Diz que a melhor opção é agir errado sem ser punido e a pior é ser injustiçado sem poder se vingar. Diz que é melhor causar uma injustiça do que sofrê-la. Diz que, para evitar sofrer injustiças, as pessoas sacrificam parte de seu poder de agir errado, e essa é a origem da justiça. Diz que o forte não precisa temer a injustiça e portanto não há razão para sacrificar seu poder e ser justo.

- Glaucon diz que as pessoas só praticam a justiça porque a vêem como algo necessário. As pessoas, por natureza, buscam a satisfação de seus desejos. Elas querem tanto quanto puderem ter, dentro de seus limites de poder. Se permitíssemos a alguém, justo ou injusto, a liberdade de agir como quisesse sem temer as conseqüências, essa pessoa agiria injustamente.

- Glaucon diz que a vida do injusto é melhor que a vida do justo. Diz que devemos decidir quando a injustiça é uma boa escolha comparando a pessoa completamente justa e a completamente injusta, para determinar qual é a mais feliz. A pessoa completamente justa é aquela que é justa apesar de parecer injusta. A pessoa completamente injusta é aquela que se livra da injustiça insuspeitadamente. A pessoa completamente injusta seria mais feliz que a justa, portanto a injustiça é uma boa escolha como parte de uma vida feliz.

Estando Glaucon certo, então a justiça só seria boa por suas conseqüências em determinadas condições sociais, onde ela traria recompensas e reputação, caso contrário, não haveria motivação para ser justo. Além disso, se é possível ser feliz sem ser justo, a justiça não é essencial para a felicidade e portanto não seria um componente da "excelência humana".

Infelizmente a aula termina sem nos dar uma resposta. Não sei se ela estaria nos volumes da "República" de Platão ou se o objetivo por trás de uma lição de filosofia em uma faculdade de primeira linha é apenas dar um nó na cuca mesmo.

Link para o texto "Why Be Moral?" do MIT:
http://ocw.mit.edu/NR/rdonlyres/Linguistics-and-Philosophy/24-200Fall-2004/E8F61ABE-9EC5-4CB0-9915-E5DEA25B1BFB/0/repgoods.pdf

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Há lógica na ética?

Tenho que confessar que não está fácil ser 100% ético neste ambiente desfavorável. Não sei se meu modelo de referência é utópico para o círculo social em que vivo ou se preciso apenas "relaxar e gozar".

O fato é que não me parece possível basear a postura ética numa decisão lógica. Se para decidir o que é certo ou errado devo entender as conseqüências das minhas decisões, e a meu ver só um supercomputador seria capaz de tamanha façanha, me parece muito mais provável que o indivíduo ético seja pautado pela emoção do que pela razão.

Se essa hipótese for correta, minha crença anterior de que devemos ser éticos em nome da sustentatibilidade da sociedade como a conhecemos (ou desejamos que seja) cai por terra. Apesar de, de maneira geral, esta idéia fazer algum sentido, as sociedades são tão mais complexas e as variáveis presentes nesses sistemas tão numerosas, que me parece impossível prever o resultado coletivo último partindo dos comportamentos individuais.

Vou pesquisar um pouco e volto ao tema oportunamente.