sábado, 8 de dezembro de 2007

Reflexões sobre misérias particulares

-- Por que você segue em frente, se tem uma vida de cachorro?
-- Eu gosto de sentir o sol na rua.

(Diálogo do filme "Infância Roubada", de Gavin Hood)

Todos os dias, no meu caminho para o trabalho, passo por uma rua onde vejo sempre um mendigo. Se ele não está encostado no muro, onde passa a maior parte do dia, está sentado numa escadinha de três degraus do estabelecimento ao lado, que parece estar vago.

É um mendigo que me chama a atenção. Ele está sempre lá, seja 9h da manhã ou 2h da tarde, esteja fazendo calor ou caindo uma garoinha fria. Ele está sempre de gorro e casaco, de barba comprida e sujo. Seus bolsos são cheios de canetas esferográficas coloridas, pelo que pude ver de dentro do conforto do meu carro.

Minha curiosidade aumenta diariamente. Às vezes o vejo lendo um jornal. Nunca o vi com ninguém. Ele também não pede nada aos passantes. Está apenas ali, existindo, uma existência miserável.

Costumo olhar para o seu rosto, na tentativa de captar alguma emoção. Apesar de sua condição, ele não expressa sinais de revolta, mágoa, sofrimento, angústia, desesperança. Como é possível?!

Às vezes sinto que eu levo uma vida miserável. Como é possível?!