quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O espírito do ateísmo

"Sinceramente, será que você precisa acreditar em Deus para pensar que a sinceridade é melhor do que a mentira, que a coragem é melhor do que a covardia, que a generosidade é melhor do que o egoísmo, que a doçura e a compaixão são melhores do que a violência ou a crueldade, que a justiça é melhor que a injustiça, que o amor é melhor que o ódio? Claro que não! Se você acredita em Deus, você reconhece em Deus esses valores; ou, talvez, você reconhece Deus neles. É a figura tradicional: sua fé e sua fidelidade andam juntas, e não sou eu que vou criticá-lo por isso. Mas os que não têm fé, por que seriam incapazes de perceber a grandeza humana desses valores, sua importância, sua necessidade, sua fragilidade, sua urgência, e respeitá-los por isso?"

(O espírito do ateísmo, André Comte-Sponville, Martins Fontes)

6 comentários:

Anônimo disse...

Para quem já leu esse livro de Sponville vale a pena ver também Deus um Delírio (de Richard Dawkins) e Carta a uma nação cristã (de Sam Harris).
Não basta ter uma visão laica do mundo, é necessário freiar, de alguma maneira, a marcha insana e ameaçadora dos bufões da fé. Caso contrário, elas montarão uma nova inquisição apoiados na nossa passividade.
Ezio Flavio Bazzo

Anônimo disse...

Valeu Bazzo. estou lendo teu Manifesto Aberto à Estupidez Humana e já li o Blasfematório. Teu estilo é o que há de melhor.
Saudações niilistas e bons tragos. Francisco dos Santos

Anônimo disse...

Vale a pena ver o treiler do livro do Ezio Bazzo, no endereço abaixo

http://www.youtube.com/watch?v=SoYLNPnF4uM

Anônimo disse...

oi, queria me identificar como um cristão, e dizer que o que é mais desenteressante em conversar com o ateu é o fato dele estar falando de uma forma de saber (científica) e nós noutro (transcendente). Dentro do enorme campo da gnosiologia existem outros campos do saber que vão contar a história dos homens de modo diferente como é o caso do mito , da ciência, da religiao da filosofia etc , enfim , são formas de ver o mundo. o que eu admiro em

Anônimo disse...

Comte-sponville é que ele tenta dialogar no mesmo plano da religião, a meu ver, e nao numa tend~encia científica. o Dawkins é desprovido de qualquer noção da bíblia e aquilo que fala é facilmente refutado.Comte-sponville é sincero e nao defraudador, ele não tenta provar que Deus nao existe, ele nao sabe se Deus existe, mas não faz nenhuma diferença para ele, aí sim um ateu que vale a pena dialogar.

lee.assis@uol.com.br disse...

Li o livro de André Comte-Sponville, um dos ateus mais famosos da França, autor de vários livros, e que se junta a alguns outros ateus muito presentes na mídia daquele país, como Luc Ferry, autor de Aprender a Viver, best seller no Brasil por vários meses; e, ainda, Michel Onfray, com seu Tratado de Ateologia, também bastante divulgado no Brasil, autor de muitos livros, e que foi inclusive entrevistado nas Páginas Amarelas da revista Veja.
Os livros de Comte-Sponville estão traduzidos para o porguguês desde algum tempo. Um particularmente me chamou a atenção - O Espírito do Ateísmo - que é um texto bem ameno, à semelhança dos escritos por Luc Ferry, mas diverso de Michel Onfray, que é essencialmente contundente, tal como o anglo-americano Christopher Hitchens, com seu Deus Não é Grande. Este se emparelha com Richard Dawkins, de Deus, Um Delírio e chega a ser até mais incisivo. Um outro ateu muito presente na mídia, dessa vez na americana, é Sam Harris, autor de Carta a Uma Nação Cristã e de A Morte da Fé.
Sobre Comte-Sponville, diríamos que ele se apresenta de uma forma tão suave e tão preso aos valores religiosos que o achei demasiadamente catequizado, cristianizado demais. É certo que sua linguagem é erudita, rigorosa, clara, concisa, e tem a felicidade de abordar com extraordinária lucidez aspectos filosófico-religiosos bastante complexos. Mas quem se acostumou com aqueles livros, desde os de Nietzsche, passando por Por Que Não Sou Cristão, de Bertrand Russell, e culminando com esses recentes, bem afirmativos, encontrar depois um Comte-Sponville com toda a sua leveza é surpreendente. Ele chega a dizer que só está separado do Cristianismo "por três dias ... da Sexta-Feira Santa à Páscoa" no domingo. "... grande parte dos Evangelhos continua a valer". "... salvo Deus". "... porque não sou fã de milagres". "É por isso mesmo que sua vida (de Jesus), tal como nos é contada, me comove e me esclarece". (p.65) Depois de referir-se aos diversos episódios e às mensagens de Cristo, ele pergunta: "... seria razoável dar mais importância a esses três dias, que nos separam, do que aos trinta e três anos que precedem, e que ... nos reúnem?" (p.66/67) Ele justifica seu apego aos valores cristãos com base em dois princípios: o da fidelidade e o da comunidade. "Pode-se viver sem religião, mas não sem comunhão, nem sem fidelidade", isto é, todos nós ocidentais estamos indissociavelmente vinculados aos valores e à comunidade cristãos. (p.67) Por outro lado, o excesso de parcimônia de Comte-Sponville pode levar muita gente a pensar que ele não seja ateu. Aliás, alguns religiosos tem utilizado justamente sua moderação para negar a assertividade dos ateus. De qualquer maneira, se eu o tivesse lido a tempo, eu o teria incluído no meu romance O Garoto Que Queria Ser Deus, da mesma forma que outros personagens do livro se valem desde Nietzsche até Sam Harris para se expressarem em seus diálogos. (Assis Utsch)