segunda-feira, 18 de abril de 2011

Aniversário

Ontem foi meu aniversário. Ao contrário dos últimos anos, não fiz festa, não me reuni com os amigos, nada. Preferi desligar o telefone e ficar quietinho em casa, torcendo para que, assim, este aniversário não acontecesse.

Os anos passam e ainda não vejo terra firme no horizonte. Quem serei quando eu chegar lá? Quanto tempo ainda me restará?

segunda-feira, 7 de março de 2011

O melhor de mim

Enquanto dirigia para o teatro ontem, eu ouvia a entrevista dessa atriz sobre seu último filme. Ela respondeu a uma das perguntas mais ou menos assim: "Eu aprendi a não julgar as pessoas. Aprendi que as pessoas não são o que querem ser, elas são apenas o melhor que conseguem fazer de suas vidas naquele momento". Me atingiu em cheio.

Durante a peça ("Cândida" de Bernard Shaw), um diálogo particular entre os personagens Marchbanks e Prosérpina chamou a minha atenção. Disse Marchbanks: "Pessoas más são pessoas que não tem amor, por isso elas não tem vergonha. Elas tem o poder de pedir amor porque não precisam dele. Elas tem o poder de oferecê-lo porque não tem nenhum para dar. Mas nós, que temos amor e ansiamos por misturá-lo ao amor dos outros, não conseguimos dizer uma palavra". Lembro-me de ter me curvado à frente, apoiado o queixo sobre as mãos e turvado os olhos nesse momento.

Como eu gostaria de superar meus medos. E como me esforço para isso. Mas sou apenas o melhor que consigo fazer de mim.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Medo de si

"Our deepest fear is not that we are inadequate.
Our deepest fear is that we are powerful beyond measure.
We ask ourselves: Who am I to be brilliant, gorgeous, talented, fabulous?
Actually, who are you not to be?"

- Marianne Williamson

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Virtudes públicas

Há cerca de seis meses consegui me recolocar em outra área da empresa. Naquele momento senti um grande alívio por não ter mais que trabalhar com algumas pessoas extremamente desgastantes.

Uma dessas pessoas tem o hábito de falar, nas rodas de cafezinho, que ensina seus filhos a serem cidadãos éticos: um dia fala sobre a importância do voto; No outro, comenta como a família se engaja na economia de água. Entretanto, ela não demonstra ética nenhuma na prática. Quando, por exemplo, algo potencialmente incorreto vinha de outra área para a gente, ela dizia que não era nossa responsabilidade verificar. E aí? Dane-se a empresa? Dane-se o cliente?

Por essas e outras, eu me revolto em silêncio quando um incauto se mostra encantado com suas demonstrações públicas de nobreza, sendo que os verdadeiros nobres da turma não fazem qualquer questão de expor suas virtudes.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Identidade

"Não creio ser verdade o que dizem, que ao viajar
alguém possa se transformar em outra pessoa:
o que acontece é que nos livramos de nós mesmos,
de nossas obrigações e nosso passado, tal como
reduzimos tudo o que possuimos aos poucos objetos
necessários que vão dentro da mala.
A parte mais pesada de nossa identidade sustenta-se
sobre o que os outros pensam e sabem sobre nós.
Olham-nos e sabemos que sabem, e no silêncio
forçam-nos a ser o que esperam que sejamos."

-- Antonio Muñoz Molina


"Você pensa saber quem é e de repente descobre
que se transformou no que outros querem enxergar em você,
e pouco a pouco vai ficando mais estranho para si mesmo,
e sua própria sombra é o espião que segue seus passos,
e em seus olhos você vê o olhar dos que o acusam,
dos que mudam de calçada para não cumprimentá-lo
e olham-no de soslaio e cabeça baixa ao cruzarem com você."

-- Antonio Muñoz Molina

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Diabetes

Um amigo levou seu filho de 14 anos, diabético tipo I, em um dos nossos happy hours. Antes de avançar nos petiscos, o menino sacou uma seringa e injetou-se uma ampola de insulina na coxa. Meu amigo, sabendo que sou diabético tipo II, olha para mim e pergunta com sarcasmo: "você quer isso para você?"

Aquilo mexeu comigo. Não vi nada diferente e não mudei meus hábitos de alimentação mas, desde então, volta-e-meia tenho algum pesadelo em torno desse assunto.

Na noite passada sonhei com um casal que preparava-se para uma celebração gastronômica. Os dois conversam sobre banalidades, enquanto o homem vai injetando várias doses de insulina em si e na amiga através de uma cinta presa ao braço de cada um, ligada a um caninho de ar comprimido com um interruptor na outra ponta. A cada disparo nota-se uma rápida expressão de dor em seus rostos. Num certo momento a mulher diz: "eu não quero mais", mas o homem ignora-a e, pssssh, injeta mais uma. Ela faz mais uma careta e segue a conversa normalmente.

Quem tem diabetes, tem medo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Separação dos Poderes

Do Wikipedia: "A Teoria da Separação dos Poderes (ou da Tripartição dos Poderes do Estado) é a teoria de ciência política desenvolvida por Montesquieu, no livro O Espírito das Leis (1748), que visou moderar o Poder do Estado dividindo-o em funções, e dando competências a órgãos diferentes do Estado."

Meu primo foi eleito vereador de uma cidadezinha do interior nestas mesmas eleições em que o Tiririca foi eleito deputado federal. Ele me contava que implementar um projeto no Brasil é tão burocrático e jurídicamente arriscado, que a maioria das pessoas no governo prefere permanecer na inércia a trabalhar pela população.

Eu só conheço a iniciativa privada. Pela minha experiência, sempre que um indivíduo ou grupo define processos ou regras que não o impactam diretamente, o primeiro resultado é a ineficiência. Nesse contexto, o que se pode esperar de uma configuração semelhante, como a do Legislativo e Executivo?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

"Status"

Eu estava lá, jogado no sofá, quando essa tia vem me cumprimentar:

- Bom dia, querido!
- Bom dia, tia.
- Olha como ele é fino! Fala tão baixinho...

Eu respondo com um sorriso e ela sai da sala. Penso comigo: a gente atinge um certo "status" e tudo o que a gente faz é bem percebido pelos outros. Até quando evita abrir a boca porque sabe que não escovou os dentes...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Gentilezas

Eu estava voltando de um evento nos EUA e teria que fazer um voo de conexão entre duas cidades americanas. Deixei para arrumar tudo na última hora e por pouco não perdi o voo. Fui o penúltimo passageiro a entrar no avião e notei que os comissários estavam agitados por conta do atraso no embarque.

Uma senhora de idade, vestida apropriadamente para o início do século XX, estava no corredor com dificuldade para acomodar sua bagagem no avião lotado. Um comissário se aproximou e disse que estávamos atrasados e que ela deveria levar a bagagem para a frente, mas ela queria ficar próxima da mala para trabalhar em suas contas. "I have to work on my bills", ela repetia. Impaciente, o comissário foi cuidar de outros assuntos.

Tentei ajudá-la. Fizemos algumas tentativas sem sucesso até que alguém da equipe conseguiu ajeitar tudo. Alguns minutos depois, já em meu assento, recebi um bilhete do tal comissário impaciente: "Obrigado por me ajudar com a senhora. Se você quiser comer algo, será por conta da casa (grátis)".

Tenho por hábito fazer pequenas gentilezas sem esperar nenhum retorno por elas. Faço-as mais por mim do que pelos outros. Mas esse agradecimento inesperado mexeu comigo... Encostei a cabeça na janela fria do avião e, com o olhar perdido no horizonte, cheguei à triste conclusão de que não me sinto suficientemente amado.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Lerdo

- Bom, é um romance, não? E num romance não é preciso dizer a verdade. Nem sempre é verossímel.
- Sim... Não, não! O que não é verossímel?
- Ah, Benjamín! Aquela parte, quando o cara parte para Jujuy... Ele chorando como se fosse uma perda... E ela correndo pela plataforma como se estivesse perdendo o amor de sua vida... Tocando-se as mãos através do vidro, como se fossem uma única pessoa! Ela chorando, como se soubesse que lhe esperava um destino medíocre, sem amor. Quase caindo sobre os trilhos, como se quisesse gritar-lhe um amor que nunca tinha confessado!
- Sim... Mas foi assim, ou não foi assim?
- E, se foi assim... Por que não me levou com você?
- ...
- Seu lerdo.

(Diálogo do filme "O Segredo dos seus Olhos", dir. Juan José Campanella, Europa Filmes)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Reciprocidade

"According to sociologists and anthropologists, one of the most widespread and basic norms of human culture is embodied in the rule for reciprocation. The rule requires that one person try to repay, in kind, what another person has provided."

(Influence Science and Practice, Robert B. Cialdini, Allyn and Bacon)

No último almoço destas férias foram servidos bombons com mensagens, como os biscoitos da sorte chineses. No meu estava escrito: "Tudo o que sabemos sobre o amor é que o amor é tudo".

Meu irmão tem dois filhos que sempre o amaram. Mas meu irmão não sabe amar.