quinta-feira, 24 de maio de 2007

Impotência

Acabei de chegar do supermercado. Estou me sentindo minúsculo, covarde, impotente. Primeiro, os fatos, depois, as ponderações.

Comprei pouca coisa. Ao aproximar-me do caixa cedi a vez para uma senhora que chegou quase ao mesmo tempo que eu. A senhora demonstrou à moça do caixa preocupação quanto ao valor de sua compra, perguntando em voz baixa se R$ 10 seriam suficientes para pagá-la. Não obteve resposta, mas o valor veio logo em seguida: R$ 8,50. Pagou com um vale-alimentação de R$ 10, mas havia algum problema para receber o troco e ela ficou ali ao lado aguardando.

A moça do caixa começou então a passar a minha compra, como se ninguém estivesse esperando nada. Eu disse que ela poderia parar, resolver a questão do troco e depois retomar a minha compra. Ela me ignorou e respondeu diretamente para a senhora que iria "só terminar a compra deste senhor e já resolveria a questão dela". Senti-me estúpido por não ter sido mais enfático.

Perguntei como ficaria a questão do troco da senhora e, em resposta ao meu questionamento, a moça procurou a gerente, que sem nos dar a menor bola, respondeu qualquer coisa que nenhum de nós entendeu. Saí do supermercado pasmo, caminhei até o carro, deixei a sacola e voltei para verificar se a senhora tinha sido finalmente atendida.

Para minha surpresa ela continuava lá, paradinha, caladinha, no mesmo lugar, ao lado do caixa, aguardando seus escassos e necessários R$ 1,50, enquanto a imbecil do caixa passava a compra de outra pessoa! Perguntei se alguém já tinha resolvido o problema e ela acenou negativamente com a cabeça. A moça então disse que seria necessário adquirir mais produtos, até completar os R$ 10. Eu perguntei à senhora se ela achava isso aceitável (que pergunta cretina!). Sem responder ela caminhou até uma gôndola próxima, pegou um pacotinho de balas, passou pelo caixa e ainda teve que deixar mais R$ 1,08! Enquanto isso a moça do caixa me fazia uma pergunta reveladora: "ela está com você?"

Saí do supermercado arrasado. Olhei para o céu. Olhei para o chão. Não sabia o que fazer. Este é um lugar onde um cidadão humilde é pago por seu trabalho honesto com um papel que não lhe dá direito a troco, que o obriga a consumir mais do que deseja, em que seu semelhante o trata com desprezo e nem um tonto mais ou menos esclarecido como eu sabe o que fazer para defendê-lo ou restaurar-lhe a dignidade diante de situações absurdas como esta.

Como sou imaturo e impotente!

Um comentário:

Anônimo disse...

Que absurdo! Tô besta. Não dá pra aceitar uma coisa dessas. Você não é imaturo, nem impotente. Você ainda fez alguma coisa, fez valer a dignidade e sensibilidade que você tem.
Coitada da senhorinha e da infeliz da moça do caixa. Uma coitada que provavelmente segue regras idiotas, feitas por idiotas-mor do supermercado!
Beijo