sábado, 4 de agosto de 2007

O desafio de Glaucon

"Algumas escolhas são fáceis, algumas não. Estas são as realmente importantes, as que nos definem como pessoa."

(Do filme "Número 23", com Jim Carrey, de Joel Schumacher)

Em minha pesquisa sobre o assunto do post anterior, encontrei na área de educação aberta do MIT (http://ocw.mit.edu/) uma aula de filosofia antiga na qual é abordado o tema "Por que ser moral". Faço um mini resumo aqui:

A aula apresenta 3 tipos de bens: os bens do tipo A seriam aqueles desejáveis pelo que são em si, como prazer ou felicidade; Os do tipo B seriam os desejáveis pelo que são e pelo que podem trazer, como conhecimento e saúde; Os do tipo C seriam desejáveis apenas pelo que podem trazer, como dinheiro ou fazer medicina.

A maioria das pessoas pensa na justiça como um bem do tipo C, ou seja, desejável apenas por suas conseqüências, mas Glaucon e Sócrates acreditavam que a justiça é um bem do tipo B, desejável em si e por suas conseqüências. Glaucon desafia Sócrates e demonstrar que a justiça é um bem do tipo B. Qual é a importância disso? Se a justiça fosse apenas desejável por suas conseqüências, então não teríamos motivações persistentes para sermos justos e erraríamos ao considerar a justiça uma virtude, algo a perseguir numa vida de excelência e felicidade.

Glaucon define as bases do desafio:

- Ele coloca o que as pessoas consideram ser a origem e a natureza da justiça: diz que as pessoas, por natureza, agirão errado se tiverem a opção de fazê-lo. Diz que a melhor opção é agir errado sem ser punido e a pior é ser injustiçado sem poder se vingar. Diz que é melhor causar uma injustiça do que sofrê-la. Diz que, para evitar sofrer injustiças, as pessoas sacrificam parte de seu poder de agir errado, e essa é a origem da justiça. Diz que o forte não precisa temer a injustiça e portanto não há razão para sacrificar seu poder e ser justo.

- Glaucon diz que as pessoas só praticam a justiça porque a vêem como algo necessário. As pessoas, por natureza, buscam a satisfação de seus desejos. Elas querem tanto quanto puderem ter, dentro de seus limites de poder. Se permitíssemos a alguém, justo ou injusto, a liberdade de agir como quisesse sem temer as conseqüências, essa pessoa agiria injustamente.

- Glaucon diz que a vida do injusto é melhor que a vida do justo. Diz que devemos decidir quando a injustiça é uma boa escolha comparando a pessoa completamente justa e a completamente injusta, para determinar qual é a mais feliz. A pessoa completamente justa é aquela que é justa apesar de parecer injusta. A pessoa completamente injusta é aquela que se livra da injustiça insuspeitadamente. A pessoa completamente injusta seria mais feliz que a justa, portanto a injustiça é uma boa escolha como parte de uma vida feliz.

Estando Glaucon certo, então a justiça só seria boa por suas conseqüências em determinadas condições sociais, onde ela traria recompensas e reputação, caso contrário, não haveria motivação para ser justo. Além disso, se é possível ser feliz sem ser justo, a justiça não é essencial para a felicidade e portanto não seria um componente da "excelência humana".

Infelizmente a aula termina sem nos dar uma resposta. Não sei se ela estaria nos volumes da "República" de Platão ou se o objetivo por trás de uma lição de filosofia em uma faculdade de primeira linha é apenas dar um nó na cuca mesmo.

Link para o texto "Why Be Moral?" do MIT:
http://ocw.mit.edu/NR/rdonlyres/Linguistics-and-Philosophy/24-200Fall-2004/E8F61ABE-9EC5-4CB0-9915-E5DEA25B1BFB/0/repgoods.pdf

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